“Não esperemos heróis; sejamos os heróis unindo as nossas forças e os nossos braços, cada um no seu dever, e defendamos palmo a palmo a nossa terra.” Essa frase, trecho de um poema de Agostinho Neto (1922 – 1979; médico, escritor e primeiro presidente de Angola), tem um sentido universal e nos convoca a sermos os autores das transformações que sonhamos para sociedade e não meros espectadores que vivem a esperar por mudanças.
Mesmo que nem sequer tenham lido, ouvido ou até mesmo sabido do autor dessa frase, mas igualmente inspirados pelo mesmo espírito, um grupo de pessoas do distrito de São Roque do Paraguaçu, há mais de 35 anos atrás, sensibilizados com a situação de extrema pobreza e a falta de tudo em que grande parte da população local vivia, resolveu que, a partir dali, seriam eles mesmos, cidadãos comuns, os agentes transformadores dessa triste realidade. Desse movimento nascido de dentro da própria comunidade, em que cada cidadão é responsável na construção de uma nova e melhor realidade para todos, nasce a COBEPA. Conheça um pouco dessa história, que continua ainda a ser construída:
São Roque do Paraguaçu, década de 70. Uma alarmante situação de pobreza afligia muitas famílias, formadas principalmente por pescadores e marisqueiras - personagens historicamente excluídos pela ausência de políticas públicas voltadas à pesca artesanal.
Sensibilizados com esse cenário, um grupo de moradores locais resolveu interferir e, liderados pela freira Raquel de Oliveira Leal, formaram uma sociedade beneficente, através da qual, passaram a promover, junto às atividades religiosas, ações voltadas ao atendimento das necessidades das famílias carentes; ações essas, possíveis graças a contribuições mensais dos associados e doações diversas.
Dona Janice Caldas, uma das fundadoras da instituição, nos conta um pouco dessa história: “Começamos do nada. Os trabalhos foram iniciados na igreja, como, curso de bordado e tapeçaria... fomos conseguindo benefícios da SETRABES (Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social), FAMEB (Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA), Cáritas Arquidiocesana e outros... Alugamos uma casa na Rua Santa Cruz, onde foi iniciado o curso de corte e costura e implantado um pequeno posto de saúde para curativos e aplicação de injeções.” (reativando assim, em 4 de novembro de 1974, o atendimento médico na comunidade já há algum tempo sem funcionar).
Assim, em 19 de outubro de 1975, nasce a Comunidade Beneficente Paroquial, designada pela sigla COBEPA.
Uma verdadeira revolução movida pelo amor ao próximo estava sendo colocada em prática em São Roque, através do trabalho desenvolvido pela COBEPA. À medida que as demandas foram crescendo, surgiu a necessidade de um local mais adequado para o desenvolvimento das atividades. “...conseguimos o terreno do antigo Bola Verde e, com a contribuição dos associados, começamos a comprar material para construir a sede.” ; conta dona Janice Caldas. A mesma, diante das dificuldades, como presidente da instituição, procurou auxílio junto a Dom Avelar Brandão Vilela (1912 – 1986. Arcebispo Metropolitano de São Salvador da Bahia, à época).
Sensibilizado com o relato de dona Janice sobre a atuação da COBEPA na comunidade, Dom Avelar, usando sua influência, encaminhou cartas a empresas solicitando em seu nome que ajudassem. A Montreal Engenharia se prontificou. E assim, entre os anos de 1978 e 1980, foi construído o prédio onde até hoje encontra-se instalada a nossa sede. A pedra fundamental foi lançada pelo Monsenhor Juarez Prata, que veio substituindo Dom Avelar, em 16 de agosto de 1978.
“Na inauguração da sede contamos com a presença de alguns representantes da Montreal Engenharia, do Pe. Edmilson Ribeiro e de Dom Avelar. Foi uma festa muito bonita! A partir daí, todos os trabalhos passaram a ser realizados na sede.” (Relato de dona Janice Caldas).
Muito havia sido realizado, porém, nos corações dos que estavam à frente do trabalho era preciso fazer mais. Então, a incansável irmã Raquel saiu em busca de parcerias, com a certeza de construir um grande trabalho social em São Roque. Assim, suprindo uma carência local, foram criadas a Escolinha Vamos Sorrir, em 1989, e a Creche Arco Íris, ambas direcionadas á educação infantil, e implementadas oficinas de datilografia, olaria e marcenaria.
O trabalho começou a tomar um direcionamento maior; muito além do assistencialismo promovido pela COBEPA em suas primeiras ações, à época fundamental para as famílias atendidas. Com o surgimento de novas demandas sociais, a COBEPA passou a investir em educação de qualidade e na capacitação e qualificação de adolescentes e jovens para a profissionalização, além de ações voltadas para a promoção social, conquista da cidadania e melhoria na qualidade de vida da população local; entre tantas, citamos a inauguração, em 30 de janeiro de 1999, do novo posto médico com melhor estrutura e equipamentos para o atendimento a comunidade.
Posteriormente, a COBEPA passou também a atuar em Enseada (Maragojipe) e no município de Salinas da Margarida, nas localidades de Encarnação, Salinas (Sede), Porto da Telha, Conceição e Cairu, provando que o verdadeiro compromisso com as vidas não tem fronteiras e que a solidariedade não tem limite de espaço ou tempo.
O trabalho em Salinas da Margarida foi iniciado em 1996, com a implantação de uma horta comunitária, reforço escolar, atividades esportivas e de lazer, melhoria habitacional e oficina de musica, atendendo crianças, adolescentes, jovens e famílias carentes.
Os obstáculos foram e são muitos, porém, quando nós somos parte desta história, o trabalho não pode parar. Hoje a Comunidade Beneficente de São Roque do Paraguaçu está galgando novos rumos e nós acreditamos que a história construída foi fundamental para que pudéssemos construir um presente e um futuro. A instituição está se profissionalizando e buscando, através da capacitação dos educadores, proporcionar a construção de uma educação de qualidade, visando a promoção social e humana do indivíduo.
Educação fazendo história
A ação educativa da COBEPA teve início na década de 70, oferecendo alfabetização às crianças e adultos. O desenvolvimento da Educação Infantil em espaços organizados iniciou alguns anos depois, em 1987, com o objetivo de assegurar às famílias mais carentes o alimento das crianças e possibilitar às mães buscarem o próprio sustento. Desse modo a ação inicial não tinha caráter pedagógico.
Paralelo as ações da Educação Infantil eram desenvolvidas atividades de reforço escolar para as crianças que frequentavam a Rede Municipal.
As Oficinas Pedagógicas foram sistematizadas em 2004, em substituição as atividades de reforço, como resultado da formação continuada dos professores. Atualmente, desenvolvem atividades independentes, através de projetos temáticos, sem vínculo com as tarefas da escola convencional.